segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Comer com a boca ou com os olhos?


Em recente evento sobre consumo, o professor Celso Grisi (FEA/USP) comentou sobre as necessidades do consumidor de baixa renda. Segundo o professor, este personagem é hoje “racional e exigente, preferindo produtos com qualidade suficiente”, sendo “mais sensível a preço e menos fiel a produtos e marcas” e com boa parte do orçamento gasto com produtos de primeira necessidade, para si e para família.
Trabalhando com comunidades de baixa renda e pouco acesso a meios de comunicação, tenho visto a dificuldade que é o acesso à bens de consumo básicos e cujo apelo comercial tenta atingir os mais longínquos cantos de nosso pais. E ai me veio a questão de como chegar até estes locais e pregar um discurso de valorização da sua cultura como elemento/produto de geração de renda, onde a (pouca) renda que surge vem da produção de bens de subsistência e vai para produtos essenciais para seu dia a dia.
Ou seja, como podemos transformar cultura em renda real, e de outro modo, cultura deve ser a solução para geração de renda?
Lia Krucker, professora da Escola de Design da UFMG, em seu livro ´Design e Território´, fala da tendência da valorização da origem do produto como diferencial mercadológico. E o design entra nesse processo como formatador do produto e gerador de meios de informação para com o potencial consumidor, aproximando-o do território.
Minha questão é se a valorização de elementos não tangíveis conseguirá sobrepor questões elementares/essenciais no consumo. Pensar que o mercado que consome produtos (e regiões) com valores culturais agregados é um público restrito e susceptível às movimentações econômicas nos leva a questão da sustentabilidade destas regiões.
Reinventando uma máxima já batida, devemos pensar o local, agindo localmente, mas ´olhando´ globalmente. A solução pode estar justamente na região, e geralmente, escondida sob o manto do obscurecimento causado pela contemporaneidade, onde o novo sempre prevalece.
Sim, pensamos sempre em satisfazer nossas mais primordiais necessidades (ou pelo menos foi esta a conclusão que Maslow chegou). Primeiro o meu umbigo! E esta cegueira branca não consegue ver que às vezes a solução primordial está sob nossos pés (literalmente, às vezes), e que ali se pode estar a contemporânea tendência futura.
Devemos manter a insistência no resgate, e principalmente manutenção, dos elementos culturais, mas também vinculá-los a outros segmentos econômicos para que os produtos oriundos da inserção de cultura deixem de ter apenas valor intrínseco, mas também valor tangível. Ai poderemos comer não só com a boca.