domingo, 19 de fevereiro de 2012

Paulo Francis tinha razão???



Não conheço bem o texto do jornalista Paulo Francis para poder criticá-lo ou elogiá-lo, mas ao ler este texto, ácido como sempre, deixo aqui a dúvida: será que ele tem alguma razão?

"Nos anos 50, acreditávamos em possibilidade de crescimento e, se possível, com atendimento das chagas sociais do País, como o Nordeste e adjacências. Não conheço quem acredite nisso hoje em dia. Os nortistas e nordestinos, em vez de resolverem seus problemas, mudaram-se para o Sul, congestionando nossas cidades, tirando-lhes o caráter, nivelando-as por baixo. Me dizem que há 4 milhões dessas criaturas em São Paulo. Putisgrila. Decidem qualquer eleição. São brasileiros como nós, com direito à vida, liberdade, e à procura de felicidade, ainda que nossa Constituição Frankenstein não contenha essas aspirações essenciais à cidadania.
Essa critica, é claro, não inclui o migrante civilizado, que se civiliza, poderíamos dizer que se europeíza, de que há até intelectuais em penca. O pau-de-arara é uma vergonha nacional. Mas a sem-vergonhice é nossa. E o pau-de-arara, que transformou nossas cidades num imenso, horrendo e perigoso mocambo, porque não têm meios ou visão de outro tipo de sociedade, se acha com o direito ao poder e, pela falácia da democracia representativa, se elege, (...).
É cada um por si. Deus não é brasileiro. Ele mora no Hemisfério Norte. Nunca um país tropical deu certo na História. Burrice e mau caráter devem ter alguma coisa a ver com a ausência de quatro estações. Fico imaginando um índio ianomâmi, nu físico e mental (a pobreza cultural do nosso índio esta magnificamente exposta no filme de Babenco, At play in fields of the Lord), dando uma topada numa cassiterita, sem saber que raio de troço é aquele, na sua terra, três vezes o tamanho da Bélgica.
Vargas Llosa diz que a metáfora do Peru é um índio, chorando de fome, sentado num banco de ouro maciço. Nos serve também.”

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Nossa Salvador!

Sei que não é o forum próprio para esta discussão, mas acho por bem ampliá-la para todos os ambientes possíveis. Outra ressalva é que embora não ache o autor deste texto o mais representativo para discussão deste tema, concordo com suas palavras, e como estando tão indignado como ele, repercuto seu texto.

PRIMAVERA BAIANA
Embora o meu sentimento seja de urgência, quero conversar com calma, que o assunto é sério: Salvador.
Numa de suas peças de teatro, Shakespeare faz a pergunta fundamental: “O que é a cidade, a não ser as pessoas?”.
E me lembro disso porque nesta semana um amigo me disse, em tom de quase desencanto: “Nosso maior problema, em Salvador, é que não sabemos nos ver como cidadãos”. Está certo. E, neste sentido, o maior problema atual de Salvador somos nós mesmos.A cara de Salvador não pode ser a da “grand vendeuse”, a da balconista-mor Ivete Sangalo, em pose autoritária, dizendo a frase imbecil: “Quem tem força, tem preço”. Em Salvador, hoje, devemos dizer coisa bem diferente: precisamos levantar a cabeça, recuperar a disposição, buscar o entusiasmo, nos mobilizar para dizer, alto e bom som, que não aceitamos o que estão fazendo com a nossa cidade. Chega de passividade. Se o que está acontecendo com Salvador (avacalhação e destruição da cidade) estivesse acontecendo em Porto Alegre, Curitiba ou São Paulo, não tenham dúvida: gaúchos, curitibanos e paulistanos teriam subido nas tamancas e saltado na goela da prefeitura.E nós, não vamos fazer nada? Felizmente, parece que sim, que é possível. As pessoas começam a protestar aqui e ali. Exemplo disso, entre outros, foi o artigo que Fredie Didier Jr. publicou neste jornal, no domingo passado. “Salvador não passa por um bom momento histórico”, escreveu Didier. “Não falo da crise em sua monumentalidade: Pelourinho abandonado, metrô inacabado, ruas sujas. Embora grave, este tipo de problema é de solução mais fácil. Não me refiro, igualmente, à violência que nos assola. A violência impressiona, mas não destoa do que acontece em outras metrópoles. Falo de outra espécie de crise, mais profunda e de efeitos mais deletérios. Salvador está em crise existencial”.A cidade apequenou-se, conclui Didier. Para, então, incitar: “Temos de retomar a nossa caminhada e refundar a cidade. Dar início a uma espécie de Renascença baiana”. Mais: “Salvador merece que façamos tudo isso por ela e a gente merece voltar a sentir orgulho da nossa cidade”. Perfeito. Já um outro amigo meu, apropriando-se da expressão hoje em voga para falar das grandes transformações que rolam no mundo árabe, me apareceu com uma frase ótima: “Precisamos promover alguma espécie de primavera baiana”. Sim, acho que está mais do que na hora de começar isso. É claro que não se trata de nenhuma comparação com o Oriente Médio.O que queremos é dar um jeito na cidade. Salvador sofre, hoje, com uma coincidência infeliz: uma desprefeitura que mescla estupidez e incompetência e um governo estadual omisso diante dos problemas da cidade (e, como me diz ainda um outro amigo: “Menos com menos só dá mais na abstração matemática; na vida real, menos com menos dá menos ainda”). Mas não estamos condenados a assistir a isso sem dizer ou fazer nada. Em nome de nossas melhores tradições contestadoras, estamos na obrigação de nos mobilizar. Podemos, sim, promover uma primavera baiana.Basta querer. Somar as nossas vozes nessa direção. Na mídia tradicional e na internet. Em blogs, no facebook, no twitter. Vamos bater na mesa e dizer que cidade nós queremos. Salvador, hoje, não é somente uma cidade abandonada, que está sendo progressivamente destruída. Mais que isso: é uma cidade humilhada. E não temos razão alguma – existencial, cultural, política ou histórica – para engolir esta humilhação. A hora é de aglutinar protestos isolados, manifestações soltas, vozes pontuais. Ou nos aproximamos e batemos na mesa, para reverter a situação atual e escorraçar a estupidez e a inércia, ou a cidade vai naufragar de vez. É hora de Salvador voltar a ser ativa, altiva e criativa – como já foi em outros momentos.Em nossa história, temos diversos exemplos de enfrentamento e superação de reveses e crises. Não é agora que vamos nos comportar frouxamente, como se esta cidade fosse uma cadela trêmula, com o rabo entre as pernas – e não o lugar onde teve início a aventura civilizacional brasileira. (Antonio Risério)