domingo, 5 de agosto de 2012

Artigo: Contribuições do Design Social


Contribuições do Design Social: Como o Design deve atuar para o desenvolvimento econômico de comunidades produtivas de baixa renda.
Social design contribution: how design could act to increase economic development for low income productive communities.

Apresentação

Será que a base da pirâmide está realmente se tornando o principal foco das grandes corporações devido ao seu poder de consumo crescente? Ou eles estão criando um monstro (ou melhor, a consciência de um)?
Quando os detentores de um mínimo possível de capital tiverem consciência que mesmo o mais básico consumo é também influenciado pelas mesmas poderosas ferramentas decisórias utilizadas pelo marketing com os distantes objetos comercializados pelos do topo da pirâmide, não será mais possível uma ruptura ou uma revolta.
C.K.Prahalad[1] profetizou o poder da base da pirâmide, e aos poucos este poder toma seu lugar de direito. Agora cabe aos detentores de um conhecimento técnico e acadêmico gerar oportunidades para que este caminho aconteça sem problemas, adequando técnicas e metodologias antes privilégio de um seleto grupo de usuários consumidores.
Tratamos aqui de uma destas formas de fortalecer o desenvolvimento sócio-econômico de uma grande massa desprovidas de acesso às benesses contemporâneas que um pequeno grupo possui; a ferramenta, como preferimos definir, de Design.
Aqui apresentamos uma pequena contribuição na vasta discussão que atualmente tem-se iniciado sobre a aplicação do Design para solucionar problemas sociais, e que o consenso tem tratado sob a especificação de Design Social.

Introdução

Será o design uma área apenas vinculada ao desenvolvimento de produtos voltados ao mercado de consumo? Será que desenvolvemos apenas lixo? Haja vista a discussão constante de que o excesso do consumo acarretará a escassez de matérias primas e aumento de lixo no mundo.
Estas questões estão nas pautas das reuniões sobre desenvolvimento econômico e social, nos discursos dos desenvolvimentistas de políticas sociais, nos inúmeros eventos que tratam das questões de sustentabilidade. Uma questão tão discutida como preocupante por não haver parâmetros para definições de suas respostas.
Considerando tudo isto, percebemos o aparecimento de uma nova postura do design e seus representantes, principalmente da parte acadêmica destes, quando começamos a buscar meios de desenvolver produtos vinculados com estas, ainda não permanentes, diretrizes. Mas o fato é: começamos!
Produtos sociais, aqueles que estão engajados em uma cadeia produtiva que olha o lado humano em que está inserido, sem, contudo se abster de questões econômicas e de mercado, tem sido desenvolvidos em consonância com a criação de um mercado específico, denominado com vários termos, seja comércio justo, economia solidária, produto sustentável, etc.
De fato uma nova forma de consumir está sendo estabelecida na sociedade do século XXI. Um consumo consciente e preocupado se apresenta no nosso dia a dia. Falta apenas sair do discurso eloqüente e categórico para uma prática costumás.
Este é o desafio que o ´novo´ designer terá ao criar novos produtos, deixando de ter um aspecto especial para serem absorvidos no nosso dia a dia, fazendo assim parte de nosso cotidiano, sem que tenhamos que cogitar a distinção entre este ou aquele tipo de produto.

Desenvolvimento Sustentável

A busca da sustentabilidade através da geração de produtos inovadores ou da adequação de sistemas ou processos de melhoramento produtivo em comunidades de baixa tecnologia e alto valor cultural é uma das premissas mais utilizadas em projetos de geração de renda através da produção manufatureira.
Programas de desenvolvimento de tecnologias sociais e de fortalecimento de uma consciência empreendedora aplicados em grupos onde a necessidade primária circunda sobre temas como fome e sede, podem se tornar apenas experimentos teóricos e laboratoriais, com dispêndio de grandes somas financeiras, gerando falsas expectativas que culminarão, certamente, em futuras descrenças a novas outras interferências.
A descrença é outro ponto encontrado nos levantamentos de informações para subsidiar intervenções. Um exemplo é o distrito de Maracangalha, município de São Sebastião do Passe, onde se iniciou um projeto de implantação de um núcleo produtivo para se trabalhar a taboa, capim nativo da região e amplamente encontrado no local. Ao se levantar dados de grupos que são capacitados, muito se viu de uma atitude desconfiada, calejada de outras intervenções mal sucedidas. Esta percepção gera um reforço maior para o momento inicial, pois se deve mostrar o desvínculamento com os malfadados projetos, o que aumenta os custos de implantação e desenvolvimento de projetos.
Algumas questões surgem quando nos defrontamos com tais cenários:
·         Por que não se consegue que a população social e economicamente desprovida veja nos produtos sociais representantes dos seus valores próprios?
·         Pulverizar as ações associativas para fortalecer uma ação global!
·         Há um gap entre a economia formal e a economia social. Condicionam-se empreendimentos de capital privado com empreendimentos sociais, com as mesmas regras.
Todas estas, e mais algumas outras questões são entraves para o sucesso das interferências sócio-econômicas, e as quais merecem uma atenção específica no seu estudo e solucionamento.
Pensemos, então, na palavra SUSTENTABILIDADE como um conceito sistêmico que se propõe a ser uma forma de condicionar a sociedade humana a planejar e agir de forma a preencher o vazio causado pelas necessidades sócio-culturais-ambientais-econômicas do mundo em que vivemos. Essa forma de condicionar a sociedade humana fica então baseada em quatro pilares: ser ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente aceito. E são nestes pilares que as novas intervenções têm buscado respaldo para aplicar as ferramentas de desenvolvimento de tecnologias sociais.

Design e Inovação

Rogers e Shoemaker (1971) definem inovação como ‘uma idéia, uma prática ou um objeto percebido como novo pelo indivíduo”. Usualmente, muitas inovações são frutos da experimentação prática ou da simples combinação de tecnologias existentes. Já o conceito de inovação social, entendido a partir do conceito de inovação, é o de um conjunto de atividades que pode englobar desde a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico até a introdução de novos métodos de gestão da força de trabalho, e que tem como objetivo a disponibilização por uma unidade produtiva de um novo bem ou serviço para sociedade. Este conceito engloba desde o desenvolvimento de uma máquina até um sistema de processamento de informações ou de gestão de instituições. (DAGNINO, 2004 e SILVA, 2004)
Inovações de processo referem-se a formas de operação tecnologicamente ou substancialmente aprimoradas, obtidas pela introdução de novas tecnologias de produção. Os resultados das inovações de processo devem alterar significativamente o nível de qualidade do produto ou dos custos de produção e entrega. Em outro caminho, vemos também o desenvolvimento de métodos e tecnologias básicas, onde o processo de inovação encontra-se justamente na desvinculação com a alta complexidade tecnológica. E.F. Schumacher cunhou a expressão “tecnologia intermediária” para designar uma tecnologia que, em função de seu baixo custo de capital, pequena escala, simplicidade e respeito à dimensão ambiental, seria mais adequada aos países pobres (ALMEIDA e ANDRIONI, 2007). E o Manual de Oslo (1997) define como “inovação não-tecnológica” todas as atividades de inovação que são excluídas da inovação tecnológica.
Seja qual for o modelo tecnológico (ou sua denominação!) devemos encarar este processo de desenvolvimento sócio-econômico, utilizando-se elementos e ferramentas inovadoras, de forma natural e benéfica, pois como toda inovação, participar-se-á de um processo, uma cadeia linear onde a pesquisa científica segue a tecnológica, o desenvolvimento econômico e depois o social, e onde a participação comunitária no processo decisório será a definidora de seu sucesso.
Conceito de Design
É necessário de antemão que nos embasemos conceitualmente nas diversas vertentes que interferem no processo de inovação para que assim possamos definir novos caminhos a serem adotados pelas demandas insurgentes.
No que concerne o processo de inovação produtiva, uma ferramenta se apresenta como uma possibilidade; Design, “(...) atividade na qual idéias ou exigências de mercado são dados para especificar uma forma física, começando desde os esboços iniciais ou conceitos, através do desenvolvimento de um protótipo, até os desenhos e especificações detalhadas (...)” (BENAVIDES, 1999).
Um novo conceito de produto é determinado em função da identificação e especificação da oportunidade de mercado. Conforme BAXTER (1998), os princípios do desenvolvimento destes novos produtos são viabilidade e especificação, projeto e desenvolvimento, engenharia de produção, fabricação e vendas. Já LÕBACH (1981) sustenta a teoria de que o processo de design de produto é um processo de solucionar problemas.
Da mesma forma, DORFLES (1978) e JONES (1978) enfatizam que a meta deve ser a compreensão clara do problema, para então trabalhar a solução de modo a ser percebida pelo consumidor, seguindo uma seqüência linear de etapas (YAIR , 1999). Dependendo do olhar, pode-se perceber que as ações que compõem um método de trabalho são ações que funcionam em rede, de forma quase simultânea, onde em cada etapa do ciclo metodológico de projeto de produto, prevalece um conjunto de critérios específicos a um objetivo específico. A flexibilidade é outra característica importante neste segmento produtivo (DORFLES, 1978; YAIR, 2001)
Como podemos observar uma linha transversal cruza todos estes conceitos; o processo pragmático de análise de problemas e geração de soluções. A principal questão é se este pragmatismo pode ser aplicado também em áreas onde os problemas não são tão objetivos como um simples defeito corrigido na engenharia de produção.
Utilização de Projetos de Design
O Design está inserido no nosso cotidiano e muitas vezes não o é percebido. Toda vez que abrimos nossa geladeira nos deparamos com Design puro, desde a própria geladeira a todos os produtos que ali contém. Cada vez mais o Design é importante e essencial para sustentação e reconhecimento de produtos no mercado. Ele deve trabalha consciente de sua responsabilidade social e ecológica, utilizando as ferramentas do mercado para desenvolvimento de produtos como um todo. Suas ações não são por mero acaso, partem de pesquisa e construção de conceitos até chegar ao produto final.
O Design está em constante mudança por ser a principal ferramenta de competitividade das empresas na atualidade. Peter Drucker[2] observa que a primeira tarefa de uma empresa é criar consumidores, e o Design é justamente o elo entre as empresas e estes consumidores.
Em recente pesquisa com objetivo de entender a percepção dos empresários brasileiros para o que é Design, e se estes identificam sua importância, verificou-se que há um direcionamento deste entendimento para o desenvolvimento de produtos e marcas e sua relação com a funcionalidade e estética. Isto indica que embora a maioria das empresas tenha uma clareza do conceito de Design mais de um terço delas possui um referencial inadequado para o conceito. Considerando que a disciplina surgiu para suprir as necessidades de um mercado novo criado pela Revolução Industrial, onde havia produtos com qualidades e distribuições semelhantes, precisando assim ter diferenciação em outros aspectos, sendo que o principal foi o desenvolvimento de marcas e rótulos para o reconhecimento instantâneo do consumidor. Ou seja, percebe-se que Design é também a construção de marcas como era no princípio, o que provavelmente está vinculada fortemente à idéia de que esta era uma forma eficiente de garantir ao longo dos anos a fidelização dos consumidores.
Design na verdade é um pouco mais, não se concentrando apenas no seu produto fim. A disciplina está envolvida desde o processo decisório de desenvolvimento e inserção de algum produto (ou serviço) no mercado consumidor, principalmente no que concerne “planejamento” e “organização geral, por meio de uma configuração especial” (HAUG, 1997). E é neste contexto que o Design interfere no processo de geração de novas soluções, no que chamamos de processo de inovação (DAGNINO, 2004 e SILVA, 2004), tendo como principais objetivos: otimização de custos; melhoria de processos produtivos; desenvolvimento de novos produtos; aprimoramento ou desenvolvimento da comunicação; e criação de um ambiente propício para desenvolvimento de novos produtos (Gráfico 1).

Design Social: conceituação

Como uma evolução, a disciplina tem se especializado em atuação com projetos sociais, o que demanda mudança de algumas posturas e objetivos, não tão visíveis e palpáveis quanto o desenvolvimento de um produto industrial.
Podemos conceituar, assim, Design Social como um aprimoramento do processo de inovação utilizando-se as ferramentas interdisciplinares de Design, e cujos objetivos podem ser sistematizados da seguinte forma: conscientização social; inserção no mercado; melhoria de processo; desenvolvimento de novos produtos; e valor agregado. Tendo como significação primordial o apelo à responsabilidade social do profissional executor da interferência, bem como o dimensionamento econômico e social de seu trabalho, em âmbitos diversos, tais como Design de produto, de serviços e de sistemas.
Segundo a Design21 Social Design Network, rede de design social filiada a Unesco, “Design Social é aquele Design que engrandece o bem, onde o bom Design é usado para um grande propósito. A rede crê que a real beleza do Design implica no seu potencial de melhorar a vida. Este potencial primeiramente manifesta-se com uma série de decisões as quais resultam em uma série de conseqüências. A prática do Design Social considera estas decisões de grande valor, entendendo que cada passo no processo de Design é uma escolha que se perpetua em nossa comunidade, no mundo e na vida cotidiana. Estas escolhas são os resultados de idéias construídas, largas discussões e, mais importante, o desejo de se fazer o bem. Design Social é Design para todos nós”.
O foco principal de todo o processo é a pessoa, o cidadão. Para que tal foco seja atingido, o processo deve ser de todo participativo. Em uma descrição sistemática do processo (Grafico 2) notamos que o que diferencia do Design Social do processo de desenvolvimento de produtos é a participação do grupo produtor no processo não apenas como força de trabalho (WEBER, 2004) mas como capital pensante, responsável e tomador de decisões.
Neste processo participativo de tomada de decisões, é necessário que se mantenha coerente com os três principais pilares do Design Social (Gráfico 3). Primeiro manter o foco no cidadão, seja ele participante do processo produtivo, seja ele agente influenciador ou influenciado pelos resultados deste processo. Inserir os principais agentes sociais deste processo nas tomadas de decisões, compartilhando responsabilidades e benesses. E ter como objetivo fim a inclusão de todos estes agentes envolvidos, produtiva, social ou economicamente.
Gráfico: Pilares do Design Social
Foco > Cidadão
Estratégia > Processo Participativo
Objetivo>Inclusão
Na construção de um processo participativo, mas que seja também eficiente, devemos ouvir também outro agente envolvido, o consumido final. Para isto levamos em conta leituras atuais e futuras de como estes se apresentam (apresentarão), e estas leituras são feitas através das tendências sociais.
Em recente artigo (ISTOÉ, DEZ/2008) sobre as tendências que influenciarão os modelos de consumo, observamos que os principais movimentos dizem respeito ao meio ambiente, as novas exigências do consumidor e a diversidade como objetivo.
A discussão da sustentabilidade ambiental versus necessidade de consumo, discussão bastante em voga e de grande importância, nos remete a prioridade ao desenvolvimento sustentável/perdurável, conceito iniciado em 1987 com o informe da Comissão Brundtland [“satisfaça as necessidades das gerações presentes sem comprometer as possibilidades das do futuro para atender suas próprias necessidades”] (Fórum Internacional de Design Social, 2007). E o Design ai se apresenta como articulador da relação produção / economia / bem-estar / ambiente.
O consumidor hoje além de estar mais exigente, inicia um processo de consciência de suas ações relacionadas com o consumo. E com o processo da globalização, esta consciência se amplia a todos os cantos e faixas sociais, com consumidores buscando produtos de qualidade, feitos com métodos sustentáveis, seguros para as pessoas e limpos para o planeta.
Assistimos também o desenvolvimento do conceito de comércio justo melhorando as condições de trabalho e vida dos produtores, especialmente nos países em desenvolvimento, reduzindo a exploração de crianças e mulheres. A ética surge como elemento distinto da etiqueta do produto. (Fórum Internacional de Design Social, 2007)
Aliado às novas exigências dos consumidores, não serem enquadrados como standarts, almejam diferenciação e principalmente personalização dos produtos (e serviços) consumidos. A diversidade se apresenta como mais uma tendência dos novos produtos, e o Design, penetrando neste processo de diferenciação, agrega novos valores aliando identidade aos produtos, identidade esta oriunda do olhar para o ser humano (usuário), para o seu entorno (meio ambiente) e para sua história (cultura).
Atuação do Design Social
Há uma profusão de interferências visando o desenvolvimento sócio econômico da população de baixo poder econômico e com difícil acesso a informação. Diversos destes projetos possuem um mesmo discurso metodológico e teórico, mas, de maneira geral, o que se vê é uma mesmice na sua intervenção prática.
O Design Social entra como um diferenciador nestas interferências, já que seu modo de ver as problemáticas, holística e ao mesmo tempo pragmática, possibilita sua fragmentação e conseqüente elucidação. Outro diferencial é o seu vínculo com o viés criativo, onde as fórmulas de resolução de problemas encontram possibilidades diversas e quase sempre únicas.
Hoje se tem visto uma atuação predominantemente no campo do Artesanato, mas ainda podemos expandir sua atuação para os setores como Movelaria, Arquitetura/urbanismo, Decoração e Moda. Para isso, ainda são necessários esforços no aprimoramento nesta atuação, principalmente no que concerne a mensuração do real retorno econômico que se tem, da forma com que esta diversidade de segmentos econômicos atua e na compreensão das possibilidades de resultados que estas ações possibilitarão aos participantes.
Com relação a sua forma de atuação, podemos definir alguns formatos de intervenção, tais como:
-         Possibilitar às comunidades produtivas em regiões de dificuldade sócio-econômica acesso ao mercado.
-         Design como articulador do conhecimento tácito ao mercado ávido por novidades.
-         Inserção de novas tecnologias (sociais, empresariais ou produtivas) ou resgate de técnicas tradicionais no processo de desenvolvimento de novos produtos.
-         Desenvolvimento de ferramentas de divulgação e promoção.
-         Oportunizar um ambiente propício ao desenvolvimento produtivo.
Para grupos produtivos com dificuldade de acesso aos grandes centros de consumo e às facilidades geradas pela proximidade com os pólos tomadores de decisão, a ferramenta do Design deve funcionar como um articulador das necessidades do mercado consumidor e as potencialidades inerentes de produtos com alta carga cultural, manifesta ou latente.
Tratando especificamente da realidade brasileira, dada a riqueza de nossa cultura (material ou imaterial), é possível gerar uma diversidade tamanha de novos produtos, utilitários ou decorativos, encarando ai produto como um elemento a ser comercializado gerando retorno econômico e reconhecimento ao grupo produtivo, sem que se descaracterizem suas realidades sócio-culturais, e vinculando-as a novos segmentos econômicos.
Este é um movimento ainda novo, mas já em prática, que merece atenção no desenvolvimento do Design. Uma série de questões ainda está presentes para serem geradoras de soluções, principalmente no campo do relacionamento interpessoal e das irregularidades que cada grupo possui no que concerne a seus interesses e receios no que tange as intervenções sofridas ou a sofrer.
Na prática, o que temos visto é uma aplicação de conceitos e metodologias voltados para o segmento industrial, o que gera alguns atritos no processo de desenvolvimento de produtos com um viés mais social ou comunitário, geralmente de cunho manufatureiro. Alguns dos aspectos que mais dificultam o sucesso das intervenções produtivas em comunidades interioranas ou socialmente vulneráveis são:
-         dificuldade na consciência empresarial e empreendedora, necessária para o sucesso de qualquer empreendimento de cunho comercial, mesmo que em um ambiente socialmente responsável;
-         necessidade de lideranças entre os participantes do grupo, ou fomento de tal perfil, visando a continuidade das metas e objetivos estipulados em conjunto;
-         excesso de abstracionismo nas intervenções e capacitações motivadoras, sendo necessário o uso de instrumentos e ferramentas palpáveis;
-         falta de monitoramento após as intervenções para correção de possíveis desvios de rumo, comum em processos participativos;
-         escassez de canais de comercialização de produtos socialmente responsáveis, ampliando o share de consumo destes;
-         desenvolvimento de duas linhas de produtos, uma para o mercado local/regional (tecnicamente mais simples) e uma para o mercado de “valor agregado” (mais elaborado e com inserção de outros elementos contemporâneos), possibilitando a sustentabilidade do grupo independente da sazonalidade do consumo dos seus produtos;
Estes são alguns aspectos, entre outros, encontrados em intervenções de aprimoramento em grupos produtivos realizadas no Brasil, o que nos subsidia de informações para discutir possíveis soluções para problemáticas encontradas no processo, pois, como foi dito anteriormente, é um processo complexo, porém sistemático.
A atuação de desenvolvimento de produtos sociais tem gerado frutos através dos grupos que já atingiram maturidade comercial e se tornaram auto-sustentáveis, após longos períodos de ajustes. Cabe agora aos designers ampliar sua atuação a outros grupos, bem como diminuir os longos períodos de ajustes, evitando desperdício de tempo e recursos, e oportunizando efetivamente o retorno do seu trabalho à sociedade.

Conclusão

O que vemos enfim é um caminho sem volta, onde o que hoje chamamos de inovação, tenderá a se tornar um padrão, um processo natural. A sociedade toma consciência de suas possibilidades como cidadão, consciência esta que vem atingindo uma dimensão exponencialmente alta e crescente. E o Design Social aparece como uma opção para apoiar esta tomada de consciência.
Há alguns anos temos visto como tópico das tendências anuais descritas pelos principais estudiosos em planejamento e percepção, o de respeito ao meio ambiente e ao ser humano, seja através do seu bem-estar, seja pela inclusão social e econômica, ou por outros viéses. Pois se estas temáticas estavam sendo vistas como tendências, agora se tornam parte de nossa realidade através da inserção nas diretrizes coorporativas e comerciais de desenvolvimento de produtos responsáveis e conscientes de sua função social.
Não teremos mais um design de produto voltado exclusivamente para a engenharia industrial, sem comprometer a relação do produto com o meio ambiente, ou um fashion design sem a interferência da responsabilidade fabril no que concernem os direitos dos trabalhadores. Isto apenas se tratarmos da área de desenvolvimento de produtos. Se olharmos para a gestão de projetos, a comunicação, o sistema logístico e de comercialização, enfim, todas as áreas que permeiam a inserção sócio-econômica do cidadão, veremos o quanto evoluímos desde as sombrias manufaturas dos idos oitocentistas.
Espaços de discussão se criam a cada momento, iniciativas institucionais ampliam suas ações em número e formato, verbas são disponibilizadas para desenvolvimento de estudos e projetos, enfim, estamos em um momento propício para o segmento do Design, demonstrando-o como ferramenta eficiente não só agregação de valor, mas também de viabilização de segmentos produtivos no nosso país. E nós, Designers, não devemos deixar esta oportunidade passar, calando-nos em nossos estúdios, elucubrando formas e formatos de novos produtos, esquecendo do papel social que, agora, todos devemos ter.
Sim, há muito a fazer, mas não podemos ficar apenas na retórica discursiva e panfletária. Devemos olhar para o que já construímos, valorizando e contribuindo de forma positivamente crítica, para ai sim termos algo concreto gerando soluções para as comunidades. E estas deixarão de apenas frequentar reuniões de discussão ou capacitação em busca dos títulos certificadores, expressando algo do tipo: ´sim, e ai, quando é que eu vou ganhar meu dinheiro!´, para incorporarem o processo de inovação produtiva à sua cultura, harmonizado com o resgate e a preservação da cultura tradicional de suas localidades.

Bibliografia

BAXTER, Mike. Projeto de Produto: Guia prático para o design de novos produtos (2ª edição). Ed. Edgard Blucher: São Paulo, 2003.
BENAVIDES, Puerto Henry. Design e Inovação Tecnológica: coletâneas de idéias para construir um discurso. IEL/FIEB: Salvador, 1999.
HAUG, W.F. Crítica a estética da mercadoria – São Paulo: UNESP, 1997.
Manual de Oslo – Proposta de diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre inovação tecnológica. OCDE / FINEP, 1997.
TIGRE, Paulo Bastos. Gestão da Inovação: a economia da tecnologia do Brasil – Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Martin Claret, 2004.
DAGNINO, R. (2004). A tecnologia social e seus desafios. In: Tecnologia social. Uma estratégia para o desenvolvimento. Fundação Banco do Brasil, Rio de Janeiro, 2004.
Artigos
SILVA, V. P. e EGLER, C. A inovação em tempos de globalização: uma aproximação. Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales. Barcelona: Universidad de Barcelona, 1 de agosto de 2004, vol. VIII, núm. 170 (33). [ISSN: 1138-9788]
ALMEIDA, D. A. e ANDRIONI, J. . A importância da tecnologia social para o desenvolvimento do terceiro setor na mesorregião serrana catarinense com ênfase na microrregião de curitibanos -SC. In: I Encontro de Economia Catarinense, 2007, Rio do Sul. Encontro de economia catarinense desenvolvimento regional e sustentável. Florianópolis : FAPESC, 2007
Pesquisa sobre Design nas Micro e Pequenas Empresas, Instituto Fecomércio de Pesquisa – IFEP. Dezembro/2004.
Revistas
ISTO É, ed.2043, Dezembro 2008.
Revista Continuum / Itaú Cultural, Maio/2008.
Sites
Design21 Social Design Network - http://www.design21sdn.com/, acesso em 12/2/2009.
Fórum Internacional de Design Social - http://designinforma.blogspot.com/2007/10/frum-internacional-design-social.html, acesso em 12/2/2009.


[1] Coimbatore Krishnarao Prahalad, ou C.K. Prahalad, como é conhecido, é um indiano-americanizado, doutor em Administração por Harvard, e considerado, atualmente, o mais influente pensador do mundo dos negócios. É autor de The multinational mission: balancing local demands and global vision e do best-seller Competindo pelo futuro, escrito com Gary Hamel e publicado em 20 idiomas. O futuro da competição e A riqueza na base da pirâmide também se tornaram rapidamente grandes sucessos de vendas, e são algumas das suas obras mais recentes.
[2] Peter Drucker, filósofo e economista de origem austríaca, é considerado por todos o ´pai´ da gestão moderna, sendo o mais reconhecido dos pensadores do fenômeno dos efeitos da Globalização na economia em geral e em particular nas organizações.

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