Contribuições do Design Social: Como o Design deve
atuar para o desenvolvimento econômico de comunidades produtivas de baixa
renda.
Social design contribution: how design could act to increase economic
development for low income productive communities.
Apresentação
Será que a base da
pirâmide está realmente se tornando o principal foco das grandes corporações
devido ao seu poder de consumo crescente? Ou eles estão criando um monstro (ou
melhor, a consciência de um)?
Quando
os detentores de um mínimo possível de capital tiverem consciência que mesmo o mais
básico consumo é também influenciado pelas mesmas poderosas ferramentas
decisórias utilizadas pelo marketing com os distantes objetos comercializados
pelos do topo da pirâmide, não será mais possível uma ruptura ou uma revolta.
C.K.Prahalad
profetizou o poder da base da pirâmide, e aos poucos este poder toma seu lugar
de direito. Agora cabe aos detentores de um conhecimento técnico e acadêmico
gerar oportunidades para que este caminho aconteça sem problemas, adequando
técnicas e metodologias antes privilégio de um seleto grupo de usuários
consumidores.
Tratamos
aqui de uma destas formas de fortalecer o desenvolvimento sócio-econômico de
uma grande massa desprovidas de acesso às benesses contemporâneas que um
pequeno grupo possui; a ferramenta, como preferimos definir, de Design.
Aqui
apresentamos uma pequena contribuição na vasta discussão que atualmente tem-se
iniciado sobre a aplicação do Design para solucionar problemas sociais, e que o
consenso tem tratado sob a especificação de Design Social.
Introdução
Será o design uma
área apenas vinculada ao desenvolvimento de produtos voltados ao mercado de
consumo? Será que desenvolvemos apenas lixo? Haja vista a discussão constante
de que o excesso do consumo acarretará a escassez de matérias primas e aumento
de lixo no mundo.
Estas
questões estão nas pautas das reuniões sobre desenvolvimento econômico e
social, nos discursos dos desenvolvimentistas de políticas sociais, nos
inúmeros eventos que tratam das questões de sustentabilidade. Uma questão tão
discutida como preocupante por não haver parâmetros para definições de suas respostas.
Considerando
tudo isto, percebemos o aparecimento de uma nova postura do design e seus
representantes, principalmente da parte acadêmica destes, quando começamos a
buscar meios de desenvolver produtos vinculados com estas, ainda não
permanentes, diretrizes. Mas o fato é: começamos!
Produtos
sociais, aqueles que estão engajados em uma cadeia produtiva que olha o lado
humano em que está inserido, sem, contudo se abster de questões econômicas e de
mercado, tem sido desenvolvidos em consonância com a criação de um mercado
específico, denominado com vários termos, seja comércio justo, economia
solidária, produto sustentável, etc.
De
fato uma nova forma de consumir está sendo estabelecida na sociedade do século
XXI. Um consumo consciente e preocupado se apresenta no nosso dia a dia. Falta apenas
sair do discurso eloqüente e categórico para uma prática costumás.
Este
é o desafio que o ´novo´ designer terá ao criar novos produtos, deixando de ter
um aspecto especial para serem absorvidos no nosso dia a dia, fazendo assim parte
de nosso cotidiano, sem que tenhamos que cogitar a distinção entre este ou
aquele tipo de produto.
Desenvolvimento
Sustentável
A busca da
sustentabilidade através da geração de produtos inovadores ou da adequação de
sistemas ou processos de melhoramento produtivo em comunidades de baixa
tecnologia e alto valor cultural é uma das premissas mais utilizadas em
projetos de geração de renda através da produção manufatureira.
Programas
de desenvolvimento de tecnologias sociais e de fortalecimento de uma
consciência empreendedora aplicados em grupos onde a necessidade primária circunda
sobre temas como fome e sede, podem se tornar apenas experimentos teóricos e
laboratoriais, com dispêndio de grandes somas financeiras, gerando falsas
expectativas que culminarão, certamente, em futuras descrenças a novas outras
interferências.
A
descrença é outro ponto encontrado nos levantamentos de informações para
subsidiar intervenções. Um exemplo é o distrito de Maracangalha, município de
São Sebastião do Passe, onde se iniciou um projeto de implantação de um núcleo
produtivo para se trabalhar a taboa, capim nativo da região e amplamente
encontrado no local. Ao se levantar dados de grupos que são capacitados, muito
se viu de uma atitude desconfiada, calejada de outras intervenções mal
sucedidas. Esta percepção gera um reforço maior para o momento inicial, pois se
deve mostrar o desvínculamento com os malfadados projetos, o que aumenta os
custos de implantação e desenvolvimento de projetos.
Algumas
questões surgem quando nos defrontamos com tais cenários:
·
Por
que não se consegue que a população social e economicamente desprovida veja nos produtos sociais representantes dos seus valores
próprios?
·
Pulverizar
as ações associativas para fortalecer uma ação global!
·
Há
um gap entre a economia formal e a
economia social. Condicionam-se empreendimentos de capital privado com
empreendimentos sociais, com as mesmas regras.
Todas
estas, e mais algumas outras questões são entraves para o sucesso das
interferências sócio-econômicas, e as quais merecem uma atenção específica no
seu estudo e solucionamento.
Pensemos,
então, na palavra SUSTENTABILIDADE como um conceito sistêmico que se propõe a
ser uma forma de condicionar a sociedade humana a planejar e agir de forma a
preencher o vazio causado pelas necessidades
sócio-culturais-ambientais-econômicas do mundo em que vivemos. Essa forma de
condicionar a sociedade humana fica então baseada em quatro pilares: ser
ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e
culturalmente aceito. E são nestes pilares que as novas intervenções têm
buscado respaldo para aplicar as ferramentas de desenvolvimento de tecnologias
sociais.
Design e Inovação
Rogers e Shoemaker
(1971) definem inovação como ‘uma idéia, uma prática ou um objeto percebido
como novo pelo indivíduo”. Usualmente, muitas inovações são frutos da
experimentação prática ou da simples combinação de tecnologias existentes. Já o
conceito de inovação social, entendido a partir do conceito de inovação, é o de
um conjunto de atividades que pode englobar desde a pesquisa e o
desenvolvimento tecnológico até a introdução de novos métodos de gestão da
força de trabalho, e que tem como objetivo a disponibilização por uma unidade
produtiva de um novo bem ou serviço para sociedade. Este conceito engloba desde
o desenvolvimento de uma máquina até um sistema de processamento de informações
ou de gestão de instituições. (DAGNINO, 2004 e SILVA, 2004)
Inovações
de processo referem-se a formas de operação tecnologicamente ou
substancialmente aprimoradas, obtidas pela introdução de novas tecnologias de
produção. Os resultados das inovações de processo devem alterar
significativamente o nível de qualidade do produto ou dos custos de produção e
entrega. Em outro caminho, vemos também o desenvolvimento de métodos e
tecnologias básicas, onde o processo de inovação encontra-se justamente na
desvinculação com a alta complexidade tecnológica. E.F. Schumacher cunhou a
expressão “tecnologia intermediária” para designar uma tecnologia que, em
função de seu baixo custo de capital, pequena escala, simplicidade e respeito à
dimensão ambiental, seria mais adequada aos países pobres (ALMEIDA e ANDRIONI, 2007). E o Manual de Oslo
(1997) define como “inovação não-tecnológica” todas as atividades de
inovação que são excluídas da inovação tecnológica.
Seja qual
for o modelo tecnológico (ou sua denominação!) devemos encarar este processo de
desenvolvimento sócio-econômico, utilizando-se elementos e ferramentas
inovadoras, de forma natural e benéfica, pois como toda inovação,
participar-se-á de um processo, uma cadeia linear onde a pesquisa científica segue
a tecnológica, o desenvolvimento econômico e depois o social, e onde a participação
comunitária no processo decisório será a definidora de seu sucesso.
Conceito
de Design
É necessário de
antemão que nos embasemos conceitualmente nas diversas vertentes que interferem
no processo de inovação para que assim possamos definir novos caminhos a serem
adotados pelas demandas insurgentes.
No
que concerne o processo de inovação produtiva, uma ferramenta se apresenta como
uma possibilidade; Design, “(...) atividade na qual idéias ou exigências de
mercado são dados para especificar uma forma física, começando desde os esboços
iniciais ou conceitos, através do desenvolvimento de um protótipo, até os
desenhos e especificações detalhadas (...)” (BENAVIDES, 1999).
Um
novo conceito de produto é determinado em função da identificação e
especificação da oportunidade de mercado. Conforme BAXTER (1998), os princípios
do desenvolvimento destes novos produtos são viabilidade e especificação,
projeto e desenvolvimento, engenharia de produção, fabricação e vendas. Já LÕBACH
(1981) sustenta a teoria de que o processo de design de produto é um processo de
solucionar problemas.
Da
mesma forma, DORFLES (1978) e JONES (1978) enfatizam que a meta deve ser a
compreensão clara do problema, para então trabalhar a solução de modo a ser
percebida pelo consumidor, seguindo uma seqüência linear de etapas (YAIR , 1999).
Dependendo do olhar, pode-se perceber que as ações que compõem um método de
trabalho são ações que funcionam em rede, de forma quase simultânea, onde em
cada etapa do ciclo metodológico de projeto de produto, prevalece um conjunto
de critérios específicos a um objetivo específico. A flexibilidade é outra
característica importante neste segmento produtivo (DORFLES, 1978; YAIR, 2001)
Como
podemos observar uma linha transversal cruza todos estes conceitos; o processo
pragmático de análise de problemas e geração de soluções. A principal questão é
se este pragmatismo pode ser aplicado também em áreas onde os problemas não são
tão objetivos como um simples defeito corrigido na engenharia de produção.
Utilização
de Projetos de Design
O Design está
inserido no nosso cotidiano e muitas vezes não o é percebido. Toda vez que
abrimos nossa geladeira nos deparamos com Design puro, desde a própria
geladeira a todos os produtos que ali contém. Cada vez mais o Design é
importante e essencial para sustentação e reconhecimento de produtos no
mercado. Ele deve trabalha consciente de sua responsabilidade social e
ecológica, utilizando as ferramentas do mercado para desenvolvimento de
produtos como um todo. Suas ações não são por mero acaso, partem de pesquisa e
construção de conceitos até chegar ao produto final.
O
Design está em constante mudança por ser a principal ferramenta de competitividade
das empresas na atualidade. Peter Drucker observa
que a primeira tarefa de uma empresa é criar consumidores, e o Design é justamente
o elo entre as empresas e estes consumidores.
Em
recente pesquisa com objetivo de entender a percepção dos empresários
brasileiros para o que é Design, e se estes identificam sua importância,
verificou-se que há um direcionamento deste entendimento para o desenvolvimento
de produtos e marcas e sua relação com a funcionalidade e estética. Isto indica
que embora a maioria das empresas tenha uma clareza do conceito de Design mais
de um terço delas possui um referencial inadequado para o conceito. Considerando
que a disciplina surgiu para suprir as necessidades de um mercado novo criado
pela Revolução Industrial, onde havia produtos com qualidades e distribuições
semelhantes, precisando assim ter diferenciação em outros aspectos, sendo que o
principal foi o desenvolvimento de marcas e rótulos para o reconhecimento
instantâneo do consumidor. Ou seja, percebe-se que Design é também a construção
de marcas como era no princípio, o que provavelmente está vinculada fortemente
à idéia de que esta era uma forma eficiente de garantir ao longo dos anos a
fidelização dos consumidores.
Design
na verdade é um pouco mais, não se concentrando apenas no seu produto fim. A
disciplina está envolvida desde o processo decisório de desenvolvimento e
inserção de algum produto (ou serviço) no mercado consumidor, principalmente no
que concerne “planejamento” e “organização geral, por meio de uma configuração
especial” (HAUG, 1997). E é neste contexto que o Design interfere no processo
de geração de novas soluções, no que chamamos de processo de inovação (DAGNINO,
2004 e SILVA, 2004), tendo como principais objetivos: otimização de custos; melhoria
de processos produtivos; desenvolvimento de novos produtos; aprimoramento ou
desenvolvimento da comunicação; e criação de um ambiente propício para
desenvolvimento de novos produtos (Gráfico 1).
Design Social:
conceituação
Como uma evolução, a
disciplina tem se especializado em atuação com projetos sociais, o que demanda
mudança de algumas posturas e objetivos, não tão visíveis e palpáveis quanto o
desenvolvimento de um produto industrial.
Podemos
conceituar, assim, Design Social como um aprimoramento do processo de inovação
utilizando-se as ferramentas interdisciplinares de Design, e cujos objetivos
podem ser sistematizados da seguinte forma: conscientização social; inserção no
mercado; melhoria de processo; desenvolvimento de novos produtos; e valor
agregado. Tendo como significação primordial o apelo à responsabilidade social
do profissional executor da interferência, bem como o dimensionamento econômico
e social de seu trabalho, em âmbitos diversos, tais como Design de produto, de
serviços e de sistemas.
Segundo a Design21 Social Design
Network, rede de design social filiada a Unesco, “Design Social é aquele Design
que engrandece o bem, onde o bom Design é usado para um grande propósito. A
rede crê que
a real beleza do Design implica no seu potencial de melhorar a vida. Este
potencial primeiramente manifesta-se com uma série de decisões as quais
resultam em uma série de conseqüências. A prática do Design Social considera
estas decisões de grande valor, entendendo que cada passo no processo de Design
é uma escolha que se perpetua em nossa comunidade, no mundo e na vida cotidiana.
Estas escolhas são os resultados de idéias construídas, largas discussões e,
mais importante, o desejo de se fazer o bem. Design Social é Design para todos
nós”.
O
foco principal de todo o processo é a pessoa, o cidadão. Para que tal foco seja
atingido, o processo deve ser de todo participativo. Em uma descrição sistemática
do processo (Grafico 2) notamos que o que diferencia do Design Social do
processo de desenvolvimento de produtos é a participação do grupo produtor no
processo não apenas como força de trabalho (WEBER, 2004) mas como capital pensante,
responsável e tomador de decisões.
Neste
processo participativo de tomada de decisões, é necessário que se mantenha
coerente com os três principais pilares do Design Social (Gráfico 3). Primeiro
manter o foco no cidadão, seja ele participante do processo produtivo, seja ele
agente influenciador ou influenciado pelos resultados deste processo. Inserir
os principais agentes sociais deste processo nas tomadas de decisões, compartilhando
responsabilidades e benesses. E ter como objetivo fim a inclusão de todos estes
agentes envolvidos, produtiva, social ou economicamente.
Gráfico: Pilares do
Design Social
Foco > Cidadão
Estratégia >
Processo Participativo
Objetivo>Inclusão
Na
construção de um processo participativo, mas que seja também eficiente, devemos
ouvir também outro agente envolvido, o consumido final. Para isto levamos em
conta leituras atuais e futuras de como estes se apresentam (apresentarão), e
estas leituras são feitas através das tendências sociais.
Em
recente artigo (ISTOÉ, DEZ/2008) sobre as tendências que influenciarão os
modelos de consumo, observamos que os principais movimentos dizem respeito ao
meio ambiente, as novas exigências do consumidor e a diversidade como objetivo.
A
discussão da sustentabilidade ambiental versus necessidade de consumo,
discussão bastante em voga e de grande importância, nos remete a prioridade ao
desenvolvimento sustentável/perdurável, conceito iniciado em 1987 com o informe
da Comissão Brundtland [“satisfaça as necessidades das gerações presentes sem
comprometer as possibilidades das do futuro para atender suas próprias
necessidades”] (Fórum Internacional de Design Social, 2007). E o Design ai se
apresenta como articulador da relação produção / economia / bem-estar /
ambiente.
O
consumidor hoje além de estar mais exigente, inicia um processo de consciência
de suas ações relacionadas com o consumo. E com o processo da globalização,
esta consciência se amplia a todos os cantos e faixas sociais, com consumidores
buscando produtos de qualidade, feitos com métodos sustentáveis, seguros para
as pessoas e limpos para o planeta.
Assistimos
também o desenvolvimento do conceito de comércio justo melhorando as condições
de trabalho e vida dos produtores, especialmente nos países em desenvolvimento,
reduzindo a exploração de crianças e mulheres. A ética surge como elemento
distinto da etiqueta do produto. (Fórum Internacional de Design Social, 2007)
Aliado
às novas exigências dos consumidores, não serem enquadrados como standarts, almejam diferenciação e principalmente
personalização dos produtos (e serviços) consumidos. A diversidade se apresenta
como mais uma tendência dos novos produtos, e o Design, penetrando neste
processo de diferenciação, agrega novos valores aliando identidade aos
produtos, identidade esta oriunda do olhar para o ser humano (usuário), para o
seu entorno (meio ambiente) e para sua história (cultura).
Atuação do Design Social
Há uma profusão de
interferências visando o desenvolvimento sócio econômico da população de baixo
poder econômico e com difícil acesso a informação. Diversos destes projetos
possuem um mesmo discurso metodológico e teórico, mas, de maneira geral, o que
se vê é uma mesmice na sua intervenção prática.
O
Design Social entra como um diferenciador nestas interferências, já que seu
modo de ver as problemáticas, holística e ao mesmo tempo pragmática,
possibilita sua fragmentação e conseqüente elucidação. Outro diferencial é o
seu vínculo com o viés criativo, onde as fórmulas de resolução de problemas
encontram possibilidades diversas e quase sempre únicas.
Hoje
se tem visto uma atuação predominantemente no campo do Artesanato, mas ainda
podemos expandir sua atuação para os setores como Movelaria, Arquitetura/urbanismo,
Decoração e Moda. Para isso, ainda são necessários esforços no aprimoramento nesta
atuação, principalmente no que concerne a mensuração do real retorno econômico
que se tem, da forma com que esta diversidade de segmentos econômicos atua e na
compreensão das possibilidades de resultados que estas ações possibilitarão aos
participantes.
Com
relação a sua forma de atuação, podemos definir alguns formatos de intervenção,
tais como:
-
Possibilitar
às comunidades produtivas em regiões de dificuldade sócio-econômica acesso ao
mercado.
-
Design
como articulador do conhecimento tácito ao mercado ávido por novidades.
-
Inserção
de novas tecnologias (sociais, empresariais ou produtivas) ou resgate de
técnicas tradicionais no processo de desenvolvimento de novos produtos.
-
Desenvolvimento
de ferramentas de divulgação e promoção.
-
Oportunizar
um ambiente propício ao desenvolvimento produtivo.
Para
grupos produtivos com dificuldade de acesso aos grandes centros de consumo e às
facilidades geradas pela proximidade com os pólos tomadores de decisão, a
ferramenta do Design deve funcionar como um articulador das necessidades do
mercado consumidor e as potencialidades inerentes de produtos com alta carga
cultural, manifesta ou latente.
Tratando
especificamente da realidade brasileira, dada a riqueza de nossa cultura
(material ou imaterial), é possível gerar uma diversidade tamanha de novos
produtos, utilitários ou decorativos, encarando ai produto como um elemento a
ser comercializado gerando retorno econômico e reconhecimento ao grupo
produtivo, sem que se descaracterizem suas realidades sócio-culturais, e
vinculando-as a novos segmentos econômicos.
Este
é um movimento ainda novo, mas já em prática, que merece atenção no
desenvolvimento do Design. Uma série de questões ainda está presentes para
serem geradoras de soluções, principalmente no campo do relacionamento
interpessoal e das irregularidades que cada grupo possui no que concerne a seus
interesses e receios no que tange as intervenções sofridas ou a sofrer.
Na
prática, o que temos visto é uma aplicação de conceitos e metodologias voltados
para o segmento industrial, o que gera alguns atritos no processo de
desenvolvimento de produtos com um viés mais social ou comunitário, geralmente
de cunho manufatureiro. Alguns dos aspectos que mais dificultam o sucesso das
intervenções produtivas em comunidades interioranas ou socialmente vulneráveis são:
-
dificuldade
na consciência empresarial e empreendedora, necessária para o sucesso de
qualquer empreendimento de cunho comercial, mesmo que em um ambiente
socialmente responsável;
-
necessidade
de lideranças entre os participantes do grupo, ou fomento de tal perfil,
visando a continuidade das metas e objetivos estipulados em conjunto;
-
excesso
de abstracionismo nas intervenções e capacitações motivadoras, sendo necessário
o uso de instrumentos e ferramentas palpáveis;
-
falta
de monitoramento após as intervenções para correção de possíveis desvios de
rumo, comum em processos participativos;
-
escassez
de canais de comercialização de produtos socialmente responsáveis, ampliando o share de consumo destes;
-
desenvolvimento
de duas linhas de produtos, uma para o mercado local/regional (tecnicamente
mais simples) e uma para o mercado de “valor agregado” (mais elaborado e com
inserção de outros elementos contemporâneos), possibilitando a sustentabilidade
do grupo independente da sazonalidade do consumo dos seus produtos;
Estes
são alguns aspectos, entre outros, encontrados em intervenções de aprimoramento
em grupos produtivos realizadas no Brasil, o que nos subsidia de informações
para discutir possíveis soluções para problemáticas encontradas no processo,
pois, como foi dito anteriormente, é um processo complexo, porém sistemático.
A
atuação de desenvolvimento de produtos sociais tem gerado frutos através dos
grupos que já atingiram maturidade comercial e se tornaram auto-sustentáveis,
após longos períodos de ajustes. Cabe agora aos designers ampliar sua atuação a
outros grupos, bem como diminuir os longos períodos de ajustes, evitando
desperdício de tempo e recursos, e oportunizando efetivamente o retorno do seu
trabalho à sociedade.
Conclusão
O que vemos enfim é
um caminho sem volta, onde o que hoje chamamos de inovação, tenderá a se tornar
um padrão, um processo natural. A sociedade toma consciência de suas
possibilidades como cidadão, consciência esta que vem atingindo uma dimensão
exponencialmente alta e crescente. E o Design Social aparece como uma opção para
apoiar esta tomada de consciência.
Há
alguns anos temos visto como tópico das tendências anuais descritas pelos
principais estudiosos em planejamento e percepção, o de respeito ao meio
ambiente e ao ser humano, seja através do seu bem-estar, seja pela inclusão
social e econômica, ou por outros viéses. Pois se estas temáticas estavam sendo
vistas como tendências, agora se tornam parte de nossa realidade através da inserção
nas diretrizes coorporativas e comerciais de desenvolvimento de produtos
responsáveis e conscientes de sua função social.
Não
teremos mais um design de produto voltado exclusivamente para a engenharia
industrial, sem comprometer a relação do produto com o meio ambiente, ou um
fashion design sem a interferência da responsabilidade fabril no que concernem
os direitos dos trabalhadores. Isto apenas se tratarmos da área de
desenvolvimento de produtos. Se olharmos para a gestão de projetos, a
comunicação, o sistema logístico e de comercialização, enfim, todas as áreas
que permeiam a inserção sócio-econômica do cidadão, veremos o quanto evoluímos
desde as sombrias manufaturas dos idos oitocentistas.
Espaços
de discussão se criam a cada momento, iniciativas institucionais ampliam suas
ações em número e formato, verbas são disponibilizadas para desenvolvimento de
estudos e projetos, enfim, estamos em um momento propício para o segmento do
Design, demonstrando-o como ferramenta eficiente não só agregação de valor, mas
também de viabilização de segmentos produtivos no nosso país. E nós, Designers,
não devemos deixar esta oportunidade passar, calando-nos em nossos estúdios,
elucubrando formas e formatos de novos produtos, esquecendo do papel social
que, agora, todos devemos ter.
Sim,
há muito a fazer, mas não podemos ficar apenas na retórica discursiva e
panfletária. Devemos olhar para o que já construímos, valorizando e
contribuindo de forma positivamente crítica, para ai sim termos algo concreto gerando
soluções para as comunidades. E estas deixarão de apenas frequentar reuniões de
discussão ou capacitação em busca dos títulos certificadores, expressando algo
do tipo: ´sim, e ai, quando é que eu vou ganhar meu dinheiro!´, para
incorporarem o processo de inovação produtiva à sua cultura, harmonizado com o
resgate e a preservação da cultura tradicional de suas localidades.
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Artigos
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